Foco: será a atenção o recurso mais escasso da atualidade?

No livro Foco – A atenção e seu papel fundamental para o sucesso, do autor Daniel Goleman, a resposta é simples. Sim, prestar atenção é uma habilidade esquecida, mas cada vez mais valiosa.

À medida que o mundo evolui aceleradamente, torna-se cada vez mais fácil distrair-se, isolar-se e sentir-se perdido com tanta informação e tantas coisas acontecendo.

No entanto, se você quer ser bem sucedido, produtivo e ter relacionamentos pessoais e profissionais melhores, precisa desenvolver seu foco.

Investigamos o livro e trouxemos os insights valiosos para você. Confira!

PORQUE PRESTAR ATENÇÃO É  A HABILIDADE CHAVE?

É essencial, portanto, que escolhamos com cautela onde “gastamos” nossa atenção, para determinar o que queremos ver e ser.

Um grande volume de informações cria, de fato, a escassez de atenção. Pense no quanto a sua visão de mundo é moldada pelas coisas nas quais você presta atenção.

Para Goleman, a grande verdade é que a atenção funciona como um músculo. Se você o utiliza pouco, ele pode se atrofiar, mas se você trabalha este músculo, ele cresce e se desenvolve.

Cada coisa na qual você decide focar é um filtro na maneira como você vê o mundo e aprende. Goleman cita o grandioso mestre Yoda, de Star Wars, nesta passagem:

“Seu foco é a sua realidade!”


VOCÊ VIVE NO AUTOMÁTICO?

O cérebro possui dois sistemas mentais semi-independentes e cada um deles têm suas características. Um deles funciona de baixo para cima (mente bottom-up) e outro que funciona de cima para baixo (mente top-down). Entender esse funcionamento é essencial para desenvolver seu foco e saber qual área está agindo em cada momento.

Mente bottom-up: Possui alta capacidade de processamento, resolvendo problemas de forma involuntária e automática. Não somos capazes de perceber seu funcionamento;

  • Ela é rápida e precisa de pouca energia para funcionar, por isso, na maioria das vezes, assume o comando.
  • Ela gerencia nossos modelos mentais de como percebemos o mundo;
  • Ela processa informações por associação, é intuitiva;
  • Ela é guiada pelas emoções, portanto é impulsiva;
  • Ela funciona em modo multitarefas e filtra nossa percepção para nos mostrar o que ela julga relevante;

Mente top-down:

Nossa consciência reside aqui, onde temos controle e a gerenciamos através das nossas intenções. Essas atividades mentais ocorrem no neocortex; monitoram e podem, de certa forma, direcionar a mente top-down.

  • Ela é mais lenta e consome esforço e energia para ser utilizada, por isso ela não é capaz de trabalhar por muito tempo sem pausas;
  • Requer esforço voluntário para ser utilizada;
  • Nela mora o autocontrole, nossa capacidade de sobrepor os pensamentos da mente bottom-up.
  • Ela é capaz de aprender novos modelos, novos planos e parcialmente tomar conta das nossas respostas mentais automáticas;
  • Consegue processar apenas uma informação de cada vez e precisa analisar bastante antes de chegar a uma resposta;
  • Ela se desenvolveu centenas de milhares depois da mente bottom-up, dando ao ser humano a capacidade de refletir, conhecer-se, decidir e planejar.

O objetivo do seu cérebro, quando se defronta com um novo estímulo, é distribuir tarefas mentais entre os dois sistemas acima com o menor esforço possível e ter o melhor resultado.

Quanto mais desenvolvemos uma habilidade e a transformamos em um hábito ou uma rotina, mais ela é passada da mente top-down para a mente bottom-up.

Já ouviu falar de atletas que fazem um exercício tantas vezes que ele acaba ficando na mémoria muscular? Na verdade, o fenômeno que o ocorre é o cérebro deixando essa repetição cada vez mais automatizada.

Essa automatização libera nossa atenção para que possamos aprender coisas novas e nos desenvolvermos.

Assim, um dos segredos de desenvolver seu foco é simplesmente transformar suas principais atividades em hábitos e fazer com que seu cérebro bottom-up consiga assimilá-los.

Quanto mais você expõe seu cérebro a um volume maior de informações, sua capacidade de controlá-lo fica reduzida. Quanto mais distraído você está, mais propenso a erros, cansaço mental e stress.

O circuitos bottom-up absorvem hábitos rápido e silenciosamente durante o dia e, embora isso seja útil se você tem bons hábitos que quer desenvolver, caso você tenha uma má rotina e muitas distrações, esse sistema também pode assimilar estas situações e entendê-las como rotinas que criamos inconscientemente.


FOCO SOLTO É BOM?

Sabe aquele momento que você sente falta de ter insights valiosos? Ser mais criativo?

Manter seu foco aberto e manter seus pensamentos à deriva também tem um papel importante. Porém, em vez de divagar em direção a algo perdido, é sempre possível ir na direção de coisas que sejam valiosas e daí surgirem grandes insights.

É muito importante que você tenha momentos “fora de foco”, pois eles são capazes de aumentar dramaticamente seu potencial criativo e sua imaginação.

Para tarefas simples, que demandam pouco foco, como por exemplo colar envelopes de cartas, vale a pena deixar sua mente à deriva e abrir espaço para divagações.

É claro que para muitos isso pode ser desafiador. Pessoas acostumadas com rotinas extremamente corridas, executivos e profissionais da informação, muitas vezes têm dificuldades para se desligar do assunto em foco e explorar novas ideias/possibilidades.

APRENDA A SER CRIATIVO, DIVAGUE COM FOCO

Para desenvolver sua criatividade, é preciso passar por três etapas principais:

  • Orientação – quando olhamos para fora e buscamos todos os tipos de informações que poderiam nos ajudar;
  • Atenção seletiva – quando focamos especificamente no desafio que queremos resolver;
  • Entendimento – quando associamos as informações livremente para deixar que a solução apareça.

No mundo atual, onde quase todos têm acesso às mesmas informações, o valor criado vem da síntese, a habilidade de combinar ideias de novas maneiras, resolvendo problemas de alto impacto.

A habilidade de divagar deixa sua mente mais livre para fazer estas combinações, enquanto uma agenda travada e cheia de compromissos te fecha para estas possibilidades.

Um estudo de Harvard, chamado “O Poder das Pequenas Vitórias”, descobriu que as melhores ideias fluem quando as pessoas têm objetivos claros, mas também liberdade para saber como alcançá-los.

Se você quer ser criativo, é importante sempre dar ao seu cérebro este tempo para pensar livremente. O mais importante é ter várias pequenas vitórias no caminho do seu objetivo e ir iterando até que o problema seja resolvido.

ENCONTRANDO O EQUILÍBRIO…

Para conseguirmos nos concentrar, é preciso sermos capazes de silenciar nossas interrupções internas.

Para atingirmos este estado, Goleman recomenda a prática da filosofia de mindfullness.

A premissa é simples: quando nos voltamos para nossos sentidos e focamos em percebê-los a todo o tempo, os ruídos do nosso cérebro são silenciados e os circuitos mentais se aquietam para os assuntos pessoais que te distraem.

Seu cérebro vive um conflito constante entre divagar e perceber exatamente onde você se encontra naquele momento. Se você usa sua energia para divagar, sua percepção do mundo naquele momento fica reduzida. Porém, se você foca em perceber o seu meio e os estímulos do mundo, seu cérebro abandona as divagações.

É importante encontrar seu ponto de equilíbrio e garantir que seus pensamentos e sua performance estão indo ao encontro de seus objetivos.

Para restaurar sua energia mental e mantê-la sempre em um alto nível, você precisa alternar entre atenção voluntariamente focada e permitir que a mente relaxe e divague.

Para atingir esse meio termo, de tempos em tempos, faça algo relaxante, dê uma caminhada, brinque com seus filhos, faça algo que não requeira uma concentração grande.

 

 

DESCUBRA SUA VOZ INTERIOR

Atingir seus objetivos é algo que requer trabalho duro, foco e sacrifício, ou seja, força de vontade.

Força de vontade, segundo pesquisas citadas por Goleman, tem alta correlação com sucessos profissional.

Para desenvolver seu foco, você vai precisar desenvolver sua força de vontade e a forma mais efetiva de desenvolver sua força de vontade é fazer o que você ama, algo alinhado a sua voz interior.

Sua força de vontade aumenta se seu trabalho reflete seus valores pessoais.

Steve Jobs sempre aconselhou que não devemos deixar a voz de outras pessoas apagarem nossa voz interior. É preciso também seguir nossos corações e intuição, pois eles sabem o que queremos ser e onde queremos chegar, ele dizia.

 

RESILIÊNCIA: A PALAVRA DA VEZ.

A resiliência emocional entra em ação quando nos recuperamos dos reveses da vida. Pessoas altamente resilientes tem sua área pré-frontal esquerda do cérebro, parte do nosso mecanismo top-down, mais desenvolvidos, para evitar que as emoções sequestrem sua habilidade de pensar.

Desenvolver-se como indivíduo é essencial para que você consiga se tornar emocionalmente resiliente. É possível fazer isso de duas maneiras, ambas focando em entender como você opera. A primeira delas é o autoconhecimento. Se você consegue entender suas forças, fraquezas e seus gostos, conseguirá trabalhar estas qualidades para se desenvolver emocionalmente.

A segunda é utilizar-se da metacognição. Se você entende os processos que te levam a aprender novas coisas e os processos que te atrapalham, será capaz de inibir os hábitos mentais problemáticos.

NÃO PODERIA FALTAR ELA.. A EMPATIA

A empatia tem duas formas principais, a empatia cognitiva e empatia emocional. A primeira nos capacita a ver o mundo através dos olhos dos outros e a nos colocar no lugar deles.

A empatia cognitiva nos ajuda a compreender o estado mental de outras pessoas e o motivo pelo qual agem de uma maneira específica.

Ela nos permite observar, por exemplo, se uma pessoa está feliz ou triste apenas olhando para sua expressão. Ela é uma empatia de leitura: nós entendemos, mas não necessariamente simpatizamos com a causa/sentimento da pessoa.

Psicopatas, por exemplo, usam este tipo de empatia para manipular pessoas de acordo com seus interesses. Já a empatia emocional nos permite sentir o que os outros estão sentindo.

Ela é um fenômeno físico que faz com que nos sintamos tristes e felizes a partir de um estímulo de outra pessoa. Este tipo de empatia se baseia no compartilhamento real do sentimento com a outra pessoa.

FOCO E LIDERANÇA: COMO OS LÍDERES CONSEGUEM DIRECIONAR AS PESSOAS

Para liderar, ter foco é uma habilidade essencial e, neste caso, foco significa não apenas o foco do líder, mas a capacidade de direcionar os liderados para o caminho certo, que está alinhado aos objetivos da organização.

Para um líder, saber direcionar é mais importante até mesmo do que suas qualificações profissionais ou seu QI.

Líderes bem sucedidos possuem autoconhecimento e sabem capturar a atenção dos seus liderados. Sabem também que, para dar direcionamento a eles, é preciso dar significado ao direcionamento.

Um dos maiores desafios neste caso é saber ouvir, que é uma característica relacionada à empatia emocional. Atualmente, não saber ouvir é quase uma epidemia nas empresas e, para liderar, é preciso falar menos sobre nós mesmos e prestar atenção no que importa para os demais e para o grupo.

Além disso, o bom líder também sabe que seus liderados olham para onde sua atenção está e, por isso, serve de exemplo.

Por isso, é importante ter um modelo claro e estratégico de foco organizacional. Steve Jobs, por exemplo, tinha uma diretriz simples, que se baseava em “decidir em que não trabalhar é tão importante quanto se decidir em que trabalhar”.

Para criar uma estratégia bem sucedida, bons líderes são capazes de saber quando alternar entre:

  • Tornar-se mais eficiente dentro do foco: A habilidade de aprender e evoluir, melhorando a capacidade atual;
  • Explorar fora do foco atual: A habilidade de se desligar do foco atual para buscar novas possibilidades;
  • Para ser capaz de alternar entre ambas, é necessário saber se desligar da rotina organizacional e assim permitir que a sua empresa desenvolva sua capacidade de aprender;
  • Também é essencial que o líder moderno seja capaz de comunicar o impacto e o significado do foco da empresa;
  • Líderes inspiradores lutam para empoderar e contribuir com seus funcionários e a comunidade;
  • Um bom líder sempre foca em identificar e desenvolver o potencial de outras pessoas;
  • Líderes que não possuem empatia são incapazes de ver seu impacto na vida dos outros e no sistema onde estão inseridos.

O QUE TE TORNA UM BOM LÍDER?

Uma vez que você adquiriu empatia, autoconhecimento e é capaz de influenciar as pessoas, como se destacar e ter certeza de que se tornou um bom líder?

Na prática, é ser capaz de mentorar e aconselhar seus liderados com maestria. É preciso sempre ter em mente que:

  • Você é capaz de articular com energia para seus liderados uma visão autêntica dos motivos pelos quais vocês estão tomando esta direção e deixar claras as expectativas para eles;
  • Entender, se importar de verdade com o que as pessoas buscam em suas vidas, carreiras e no seu trabalho e, a partir daí, dar seus conselhos;
  • Ouvir conselhos e a experiência. Sempre colaborar com o time e saber usar o consenso quando necessário;
  • Saber que celebrar vitórias, rir, divertir-se com sua equipe não é um desperdício de tempo e sim uma ótima ferramenta para desenvolver-se emocionalmente.

Se você é um líder e adota estas práticas, provavelmente desenvolverá um time com alta performance e alinhamento.

Além disso, para garantir a harmonia do seu time, Goleman também recomenda que você reúna seu time periodicamente e converse francamente sobre as dinâmicas da equipe, para que o grupo entenda e decida que mudanças devem ser feitas.

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